SINCOMÉRCIO Piracicaba

Artigo

Economia Criativa: uma indústria em sintonia com as transformações do mercado de trabalho e sociedade

Publicado em: 05/12/2018

Compartilhar esta página:

Independente dos resultados finais das eleições de 2018, ocorridas em outubro, um mantra é consenso certo entre candidatos (eleitos ou não) e eleitores das mais distintas opiniões: a empregabilidade é uma das prioridades. Concordo, mas, gostaria de acrescentar uma reflexão a essa expectativa, afirmando que, infelizmente, não necessariamente a empregabilidade depende apenas de políticas públicas ou da própria economia, mas sim, do estado constante de transformação do mercado de trabalho e nossa capacidade de nos prepararmos e adaptarmos, buscando desta forma talvez, alguns ecos ou sinais das respostas que fazemos e, por vezes, esperamos que aconteçam à mercê da sorte ou das transformações ao nosso redor.

Há tempos, pesquisas e cenários apontam para um futuro desrruptivo das formas de trabalhos tradicionais e, que hoje, já se apresentam como realidade em muitos casos, vide os processos de automação nas indústrias, o crescimento de trabalhadores autônomos, a constante expansão da terceirização de mão de obra, o crescente número de MEIs, que já ultrapassa os 7 milhões em todo país, o também crescente e impressionante número de startups, entre outros. Estamos em acelerada migração, de uma forma de trabalho configurada a partir de uma economia linear e tangível, para o que consideramos, uma nova Zeitgeist, redonda e intangível.

Para tentar ilustrar um pouco essa mudança, cito o autor, pesquisador, jornalista, consultor, professor, empresário e futurista, o inglês John Howkins, que nos anos 2000 traduziu e difundiu o termo “Economia Criativa” no Brasil, através de seu livro “Economia Criativa, como ganhar dinheiro com ideias criativas”, publicação esta onde conseguiu apresentar de forma simples e objetiva, como profissionais ligados aos setores criativos, poderiam transformar suas produções em negócios rentáveis. Esse é o princípio do mundo e economia intangível, onde ideias geniais valem mais do que o tamanho ou capital de uma empresa.

Nesse novo modelo de gerar riquezas e que transforma a natureza do trabalho desde o final do século XX, o tangível cede lugar ao intangível, os parques industriais ou empresas se reconfiguram em grandes ambientes coworking ou home office, onde máquinas e produção em série, perdem espaço para ideias geniais, soluções e inovações tecnológicas e o talento individual e, principalmente, coletivo das pessoas.

Traduzindo o termo nas palavras da futurista e pioneira em economia criativa no Brasil, Lala Deheinzelin, “economia Criativa é toda riqueza que você pode gerar a partir de recursos intangíveis”, mas afinal, o que seria esse intangível? Podemos considerar os produtos oriundos de áreas como entretenimento, gastronomia, moda, música, pesquisa e desenvolvimento, publicidade e propaganda, setor editorial, software, TV e rádio, turismo, jogos eletrônicos, entre outros, pois produzem conhecimento, cultura, experiência, atributos, valores de marca, novas tecnologias e seus infinitos mundos virtuais, enfim, geram inovação a partir da criatividade.

Importante compreender, que não se trata de artesanato, como muitos fazem a simplista leitura, mas sim, novos serviços e novas tecnologias urbanas, valorizando principalmente arte e cultura. Para citarmos apenas alguns exemplos, lá atrás, em 1998, os teatros da West End e Broadway, gastaram muito mais com propriedades intelectuais e direitos autorais, do que com suas gigantes infraestruturas e imóveis. Também nesse ano, a indústria fonográfica britânica empregou mais pessoas e faturou mais do que a automobilística. Surpreendente? Não! Apenas tangível para intangível.

Em Piracicaba, por exemplo, podemos citar inúmeras transformações geradas a partir desse conceito. O próprio engenho central, desativado há anos e hoje transformado em centro de eventos culturais, gastronômicos e negócios. Nosso novo ambiente no bairro Monte Alegre, onde as usinas e fábricas do ontem, cedem espaço para outros segmentos, relacionados a criatividade e inovação.

Fica o convite para olharmos então para esse novo mundo e, quem sabe ao nos debruçarmos sobre ele, encontremos ai oportunidade e os caminhos, que hoje parecem tão complexos.

 

João Carlos Goia - Gerente do Senac Piracicaba